sábado, 17 de outubro de 2009

Jornalismo ambiental que é praticado está a serviço de grandes grupos econômicos

Mais um boletim do Congresso Brasileiro de Jornalismo Científico, que recebi por e-mail. Muito interessante a matéria.

Cobertura Especial direto do 10º Congresso Brasileiro de Jornalismo Científico

Jornalismo ambiental que é praticado está a serviço de grandes grupos econômicos

O “bom” jornalismo científico estaria acessível a apenas a uma pequena parte da sociedade

Alessandra Maia e Wedis Martins (enviados especiais) *

Belo Horizonte – Um dos grandes problemas que a divulgação científica enfrenta no Brasil é a falta de coerência na transmissão das informações. Durante sua palestra intitulada “O discurso da sustentabilidade no Jornalismo brasileiro”, hoje, segundo dia (15/10), do 10º Congresso Brasileiro de Jornalismo Científico, Miriam Santini de Abreu, autora do livro Quando a palavra sustenta a farsa: o discurso jornalístico do desenvolvimento sustentável, afirmou que “o jornalismo científico nacional precisa se desalojar, ou seja, deixar de ficar preso a simples questões teóricas”.

Segundo a autora, o jornalista tem que fornecer para a sociedade informações relevantes para que esta se sinta estimulada a mudar o que acontece de ‘errado’. “O jornalismo científico está na montanha, ou seja, preso a discursos globais, de que a ciência é a salvação para tudo. Ele precisa ver realmente o que está acontecendo do ponto de vista local. Entender que muitas vezes aquela ciência que se divulga não está acessível à maioria das pessoas”, explicou Miriam.

Esse jornalismo que abrange tanto o global quanto o local está acessível, segundo ela, apenas a uma pequena parcela da população que tem condições de arcar com assinaturas e compra de publicações de qualidade; desta forma, deixando de lado os que realmente não sabem e precisariam, segundo ela, entender o que de fato é ciência. “As mudanças só acontecerão quando a grande massa compreender o que se passa em seu país. No entanto, esta se informa predominantemente através da grande mídia, que oferece um cardápio pobre em conhecimento científico”, afirmou.

Já Carlos Tautz, jornalista e pesquisador do Instituto Brasileiro de Análises Sociais e Econômicas (Ibase), afirmou que o modelo de desenvolvimento capitalista mais agride o meio ambiente do que agrega valor à sociedade. Conferencista também de hoje, no evento, ele disse que “no caso brasileiro, esta agressão é bastante acentuada”. Para o jornalista, “o modelo de desenvolvimento brasileiro é baseado na extração intensiva da natureza, que só tende a crescer nos próximos anos”.

Segundo Carlos, o jornalismo ambiental que se pratica no país não deveria ser assim denominado, por estar intensamente vinculado aos interesses dos grupos de comunicação. “As ambições das grandes empresas prejudicam uma análise mais aprofundada dos temas científicos”, indicou.

Para Tautz, a imprensa foca a sua cobertura científica unicamente pelo viés do modelo de desenvolvimento do país. Um exemplo é a atual cobertura jornalística da construção das usinas hidrelétricas no Rio Madeira. “Neste caso a mídia privilegia apenas o lado econômico da questão, sem abrir espaço para a abordagem ambiental. Perguntas como: de que forma a criação de uma hidrelétrica afeta a vida da população do seu entorno, estão sendo deixadas de lado”, argumentou.

Quando se trata das fontes, Carlos explicou a importância de o jornalista não se ater apenas às oficiais. Para ele, ouvir as pessoas que sofrem os impactos das ações, os ambientalistas, grupos minoritários, entre outros, também é importante. “A verdade científica nunca foi absoluta. E será menos ainda agora com a questão climática entrando em pauta”, disse.

* Estão em Belo Horizonte onde também participam dos trabalhos científicos, apresentando pôster sobre a Agência Uerj de Notícias Científicas (AGENC) em nome da Faculdade de Comunicação Social da Uerj.

Email: uerj.agenc@gmail.com
Twitter: www.twitter.com/agencuerj

Nenhum comentário:

Postar um comentário