quarta-feira, 21 de outubro de 2009

Comunicação empresarial serve para quê mesmo?

Os assessores de comunicação deveriam refletir sobre o papel social que têm e que devem desempenhar diariamente na produção de seus trabalhos. Pensei nisto hoje quando vi uma publicação de uma empresa de Porto Velho. É um boletim digital bem bacana na apresentação - layout. Mas confesso que fiquei bastante preocupada com esta publicação.
Imaginei que seria uma publicação voltada para o público interno, pelos temas tratados e a linguagem mais descontraída. Mas fui informada que era tanto para o público interno quanto para o externo. Não sou nenhuma doutora em comunicação, mas sei que os assuntos e as abordagens são diferentes para os dois públicos.
Que leitor externo à empresa se interessaria em saber que os funcionários desta empresa adotaram cachorrinhos abandonados? Ou saber da lista de aniversariantes do mês? Ou ler sobre o último curso técnico que foi promovido aos funcionários?
Pela leitura do boletim digital, percebi que era exclusivamente para o público interno. E foi justamente nesta leitura que me assustei. O micromundo também é um reflexo do mundão em que vivemos. Ou seja: uma empresa também reflete os conflitos sociais, culturais e econômicos que estão aí, presentes na sociedade. As estruturas hierárquicas são, por si sós, geradoras de conflitos, por serem divididas em castas (alto escalão, gerentes, supervisores, peões...). É assim no mundo, é assim em qualquer instituição, empresa, organização etc.
E o que a comunicação tem a ver com isto? Creio que nosso papel é tentar promover o diálogo e a harmonia social. Falando assim, parece coisa de gente que usa óculos cor-de-rosa. Mas não é. E dou um caso concreto. Se existem, digamos, três níveis hierárquicos dentro de uma empresa, é preciso que os três se respeitem e estejam em harmonia para que a empresa alcance seu objetivo que é (e sempre será) o lucro. Isto não é difícil de entender. A falta de respeito e diálogo pode gerar mais conflitos, desmotivar os profissionais e diminuir a produtividade.
Vi, com espanto, que ao contrário de promover a harmonia, o boletim interno digital da empresa a que estou me referindo tinha uma apologia ao preconceito. Era uma coisa simples - uma charge em que um chefe e um subordinado conversavam, um perguntava se o outro já tinha feito um cartaz e o subordinado dizia que sim. No quadrinho ao lado aparecia um cartaz com todas as palavras escritas erradas. O que quero dizer com tudo isto é que a charge só reforça um conflito social, enfatiza o desnível social e cultural existente entre os que estão na chefia e os que estão na base.
Dizem que não existe piada politicamente correta, mas neste caso, rir da falta de escolarização (da falta do bom português) dos peões que fazem o trabalho braçal da empresa é no mínimo dar um tiro no próprio pé. Quem escreve errado não vai entender a piada. E se entender, vai pensar "os caras estão rindo da gente". Fazer este tipo de comunicação é uma atividade contraproducente para com a própria empresa - é um auto-boicote. Não é este o papel do assessor de comunicação.
Há de se pensar em termos uma Comunicação de fato Social, não só pelo nome do curso de graduação que se faz, mas pela ação que proporcionamos e imprimimos no que fazemos diariamente.

2 comentários:

  1. Sempre recebo esse boletim por e-mail, portanto, acho que a intenção é de atingir o público externo mesmo. Porém, com material voltado para o interno, com destaque de personagens, capacitações, tudo o que um boletim interno deve ter. Se a tentativa foi um dois-em-um, não deu certo mesmo...

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  2. Parabéns, minha nobre amiga Luiza, é isso mesmo! Precisamos refletir bastante sobre o que queremos, que mensagem pretendemos passar e como vamos passá-la. Reflexão constante.

    Não tinha visitado ainda seu blog, adorei! bjs

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